A avaliação da incapacidade laboral em casos de acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais é um tema complexo e de suma importância no Direito do Trabalho. Para determinar a extensão dos danos e o percentual de indenização devido ao trabalhador, a Justiça recorre a diferentes parâmetros. Dois deles se destacam no debate jurídico atual: a Tabela SUSEP e a Tabela CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde). Compreender suas diferenças e o peso que cada uma exerce é fundamental para advogados e trabalhadores.
O Papel da Tabela SUSEP: Percentuais Pré-Fixados E As Limitações Em Sua Aplicação
Tradicionalmente, a Tabela SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) tem sido a referência mais utilizada para o cálculo de indenizações por acidentes pessoais no Brasil. Criada para o mercado securitário, ela estabelece percentuais de redução da capacidade funcional em relação a diversas lesões, de forma pré-fixada e objetiva. Por exemplo, a perda total de um dedo pode corresponder a um percentual específico, independentemente da profissão do indivíduo.
Por que a Tabela SUSEP ainda tem grande peso?
Objetividade: Seus percentuais são claros e de fácil aplicação, o que confere uma previsibilidade aos cálculos.
Historicamente Consolidada: É uma ferramenta antiga e amplamente conhecida, utilizada por seguradoras e peritos por muitos anos, o que gera uma certa inércia na sua aplicação.
Segurança Jurídica (aparente): Por ser padronizada, muitos a veem como um caminho para evitar subjetividades excessivas na valoração do dano.
No entanto, essa mesma objetividade pode ser sua maior limitação, levantando sérias questões sobre sua adequação no âmbito do Direito do Trabalho. A Tabela SUSEP não considera as particularidades da função exercida pelo trabalhador acidentado ou a complexidade do impacto da lesão em sua vida pessoal e profissional. Um marceneiro que perde um dedo, por exemplo, terá sua capacidade de trabalho muito mais comprometida do que um profissional de escritório com a mesma lesão, mas a tabela pode atribuir o mesmo percentual de incapacidade a ambos.
É justamente nesse ponto que o uso da Tabela SUSEP, nos termos em que é aplicada de forma rígida, viola o Artigo 950 do Código Civil, bem como as metanormas da proporcionalidade e razoabilidade:
Art. 950 do Código Civil: Este artigo preconiza que, se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização deverá incluir, além das despesas de tratamento e lucros cessantes, uma pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.
A Tabela SUSEP, ao oferecer um percentual genérico para a lesão sem considerar a específica profissão e o real impacto na capacidade laborativa do indivíduo, falha em atender ao mandamento legal de individualizar a reparação, desconsiderando a "importância do trabalho" para o qual o trabalhador se inabilitou.
Metanormas da Proporcionalidade e Razoabilidade:
A proporcionalidade exige que qualquer medida (neste caso, a indenização) seja adequada aos fins a que se destina, necessária e proporcional em sentido estrito. A aplicação inflexível da Tabela SUSEP muitas vezes não é proporcional ao dano real, pois a mesma lesão afeta de maneiras dramaticamente diferentes a capacidade laborativa e a vida de indivíduos em distintas profissões.
A razoabilidade impõe que as decisões e critérios adotados sejam sensatos, lógicos e justos, em conformidade com o senso comum e os valores do ordenamento jurídico. O uso da SUSEP, ao desconsiderar as especificidades do caso concreto e a dimensão individual do dano, pode levar a indenizações desarrazoadas e, consequentemente, injustas, ferindo a própria essência da reparação integral.
A Ascensão da Tabela CIF: Uma Abordagem Holística, Funcional e Juridicamente Adequada
Em contrapartida, a Tabela CIF, desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), propõe uma avaliação mais abrangente e contextualizada da funcionalidade e da incapacidade. Diferente da SUSEP, a CIF não foca apenas na lesão em si, mas sim nas limitações de atividade e restrições de participação que a condição de saúde impõe ao indivíduo, considerando também fatores ambientais e pessoais.
Por que a Tabela CIF vem ocupando maior espaço na Justiça do Trabalho?
A evolução da jurisprudência trabalhista demonstra uma crescente preferência pela aplicação da Tabela CIF, especialmente quando se trata de avaliar a real repercussão da incapacidade na vida do trabalhador. Os Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) e, notadamente, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) já vêm aplicando e preferindo o uso da Tabela CIF, reconhecendo que:
Individualização do Dano: A CIF permite uma análise mais aprofundada e personalizada, adaptando a avaliação da incapacidade à realidade de cada trabalhador e à sua específica atividade profissional, em consonância com o Artigo 950 do Código Civil.
Foco na Funcionalidade: Em vez de apenas categorizar a lesão, a CIF busca entender o quanto a lesão afeta a capacidade do indivíduo de realizar tarefas e participar de seu ambiente social e profissional.
Dignidade da Pessoa Humana: Essa abordagem mais humanizada e integral está mais alinhada aos princípios do Direito do Trabalho e à proteção da dignidade do trabalhador.
Atualização Científica: A CIF é uma ferramenta mais moderna e alinhada com os conceitos de saúde e funcionalidade atuais, fornecendo uma base pericial mais robusta.
Distinção Fundamental e Por Que a CIF é Mais Adequada
A principal distinção entre a Tabela SUSEP e a Tabela CIF reside em seus focos e metodologias:
A adequação da Tabela CIF para a Justiça do Trabalho é evidente porque ela:
Reflete a Realidade do Trabalhador: Ao considerar o contexto da atividade laboral e a vida pessoal, a CIF oferece uma visão mais fiel do que a incapacidade representa para aquele indivíduo, fugindo da generalização da SUSEP e respeitando os princípios da proporcionalidade e razoabilidade.
Harmonia com o Direito do Trabalho: Seus princípios de individualização, proteção da dignidade humana e busca pela reinserção social estão em consonância com a teleologia do Direito Laboral, que visa a proteção do hipossuficiente e a reparação justa, conforme Art. 950 CC.
Maior Justiça na Indenização: Permite que a indenização seja calculada com base na real perda funcional e de ganho do trabalhador, e não apenas em um percentual fixo que pode subestimar ou superestimar o dano, garantindo uma reparação mais equitativa e jurídica.
A Tabela CIF e a Dignidade da Pessoa Humana
O princípio da dignidade da pessoa humana, consagrado no artigo 1º, inciso III da Constituição Federal do Brasil, é o fundamento da República e um dos pilares de todo o ordenamento jurídico. Ele assegura que o ser humano deve ser tratado como um fim em si mesmo, e não como um meio ou objeto, garantindo seu valor intrínseco, autonomia e desenvolvimento pleno.
A Tabela CIF atende a este princípio de forma superior à Tabela SUSEP, principalmente por três razões:
Individualização e Subjetividade: Diferentemente da Tabela SUSEP, que impõe um percentual fixo e genérico para uma lesão, a CIF reconhece a singularidade de cada indivíduo. Ela não avalia apenas a lesão (o dano físico), mas sim o impacto que essa lesão tem na vida particular daquela pessoa, considerando sua profissão, seu ambiente, suas relações sociais e suas aspirações. Ao fazer isso, a CIF trata o trabalhador como um sujeito único, com uma história e um contexto próprios, e não como um mero "corpo danificado" a ser precificado por uma tabela padrão, o que é crucial para uma reparação justa e conforme o Art. 950 do CC.
Visão Holística e Integral: A dignidade humana exige uma visão integral do ser, considerando seus aspectos físicos, mentais, sociais e psicológicos. A CIF adota essa perspectiva holística ao avaliar não apenas a estrutura ou função corporal comprometida, mas também as limitações de atividade e as restrições de participação. Ela se preocupa com a capacidade do indivíduo de realizar suas tarefas diárias, de interagir socialmente e de se reintegrar ao mercado de trabalho. Essa abordagem complexa e multifacetada respeita a pessoa em sua totalidade, buscando uma reparação que de fato compense a perda funcional e social sofrida, pautada pela razoabilidade e proporcionalidade.
Foco na Reabilitação e Inclusão: Ao identificar as limitações e os fatores ambientais, a CIF não se limita a quantificar o dano, mas também serve como base para estratégias de reabilitação, readaptação profissional e inclusão. Isso alinha-se diretamente com o princípio da dignidade, que preza pela possibilidade de o indivíduo continuar a participar ativamente da sociedade e a ter uma vida digna, mesmo diante de uma incapacidade. O objetivo não é apenas indenizar, mas também promover a máxima funcionalidade possível e a reintegração social.
Em síntese, enquanto a Tabela SUSEP cumpre sua função para o mercado securitário ao padronizar indenizações por danos pessoais e reduz o dano humano a um número fixo, a Tabela CIF humaniza o processo de avaliação, tratando o trabalhador como um ser complexo e digno, cujas perdas devem ser avaliadas em seu contexto único, para garantir uma reparação justa e equitativa, nos termos exigidos em nossa legislação.
Comprei um Terreno, Herdei um Problema Ambiental? Entenda a Obrigação Propter Rem
Você sonha em adquirir um pedaço de terra, seja para construir sua casa, montar seu negócio ou até mesmo para uma chácara de lazer. No entanto, o que muitos não sabem é que, junto com a propriedade, pode vir uma surpresa desagradável: um passivo ambiental. E a grande questão é: mesmo sem ter causado o dano, você pode ser responsabilizado por ele. É aqui que entra a famosa obrigação propter rem no Direito Ambiental.
O Que É Passivo Ambiental?
Antes de tudo, precisamos entender o que significa "passivo ambiental". Refere-se a qualquer tipo de degradação, contaminação ou não conformidade com a legislação ambiental existente em uma propriedade. Pode ser desde um aterro de lixo clandestino, contaminação do solo ou da água por produtos químicos, desmatamento irregular, construção em APP, nascentes assoreadas, ou até mesmo a falta de licenciamento para atividades que ocorreram no local.
A "Herança Indesejada": A Obrigação Propter Rem
A obrigação propter rem, que em latim significa "por causa da coisa", é uma característica peculiar do Direito Ambiental brasileiro. Ela determina que a responsabilidade pela recuperação de um dano ambiental está vinculada à própria propriedade ou posse, e não necessariamente à pessoa que o causou.
Isso significa que, se você adquire uma área que já possui um problema ambiental, mesmo que o dano tenha sido provocado por proprietários anteriores, a responsabilidade pela sua reparação pode recair sobre você, o atual dono ou possuidor. A lei ambiental, em sua busca pela proteção do bem comum (o meio ambiente), estabelece essa responsabilidade objetiva e solidária, o que muitas vezes surpreende e preocupa o novo adquirente.
Por que isso acontece? O legislador entende que o dano ambiental é de natureza permanente e que o custo de sua recuperação não deve ser repassado à sociedade. Assim, o proprietário ou possuidor atual, por deter o controle sobre a área, é considerado o mais apto a promover a recuperação.
Meios de Regularizar a Posse e Evitar Dores de Cabeça
A notícia de herdar um problema ambiental pode ser assustadora, mas existem caminhos para mitigar riscos e regularizar a situação. A palavra-chave aqui é prevenção e ação.
1- Diligência Prévia (Antes de Comprar!): A Melhor Defesa
Esta é a etapa mais importante. Antes de fechar qualquer negócio de compra ou de assumir a posse de uma área, realize uma due diligence ambiental. Isso inclui:
Levantamento de Histórico: Pesquise o histórico da propriedade na prefeitura, órgãos ambientais estaduais (como SEMAS, SEMA, etc.) e federais (IBAMA). Verifique se há multas, autuações, embargos ou processos ambientais relacionados à área.
Análise Documental: Peça todas as licenças e autorizações ambientais dos antigos proprietários, mesmo que as atividades já tenham cessado.
Vistoria Técnica: Contrate um profissional (engenheiro ambiental, biólogo, agrônomo) para realizar uma vistoria no local, identificando possíveis sinais de degradação, contaminação ou usos indevidos.
Consulta à Matrícula do Imóvel: Verifique a matrícula no cartório de registro de imóveis para identificar averbações de áreas de preservação permanente (APPs), reserva legal ou outras restrições.
2- Negociação e Documentação (Se o Problema Existe)
Se a diligência prévia revelar um passivo ambiental, não desista do negócio, mas negocie com inteligência:
Cláusulas Contratuais: Inclua no contrato de compra e venda cláusulas específicas que estabeleçam a responsabilidade do vendedor pela remediação de qualquer passivo ambiental existente antes da venda. Peça garantias ou retenção de valores.
Desconto no Preço: Negocie um desconto no valor do imóvel que cubra os custos estimados da regularização.
Laudos e Pareceres: Obtenha laudos técnicos detalhados que comprovem a extensão do dano e as medidas necessárias para sua recuperação.
3 - Regularização da Posse/Propriedade (Se Você Já Herdou o Problema)
Se você já se encontra na situação de ter herdado um passivo ambiental, é hora de agir:
Busque Ajuda Jurídica Especializada: Um advogado com experiência em Direito Ambiental é fundamental. Ele o orientará sobre os órgãos competentes, os documentos necessários e as etapas legais para a regularização.
Contate os Órgãos Ambientais: Procure o órgão ambiental responsável pela área. Apresente sua situação, demonstre boa-fé e busque um termo de ajustamento de conduta (TAC) ou um Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD).
Elabore um Plano de Recuperação: Com o auxílio de técnicos, será necessário elaborar um plano detalhado para a recuperação da área, que pode incluir ações como reflorestamento, remediação de solo contaminado, recuperação de nascentes, entre outros.
Acompanhamento e Monitoramento: O processo de recuperação pode ser longo e exige o cumprimento de prazos e metas. O acompanhamento contínuo e o monitoramento são cruciais.
Ação de Regresso: Embora a responsabilidade primária seja do atual proprietário perante o meio ambiente, seu advogado pode avaliar a possibilidade de entrar com uma ação de regresso contra o antigo proprietário que causou o dano, buscando o ressarcimento dos valores gastos com a regularização.
IMPORTANTE: Via de regra a demolição do imóvel é medida extrema que um bom profissional do direito irá conseguir evitar na Justiça ainda que a posse esteja em área de APP, desde que cumpra algumas condições.
Conclusão: Proteja Seu Investimento e o Meio Ambiente
A aquisição de uma propriedade é um passo importante, e a preocupação com o passivo ambiental é real. A obrigação propter rem serve como um alerta: a responsabilidade ambiental é séria e acompanha o bem. Não se deixe pegar de surpresa. A prevenção, por meio de uma boa diligência, e a busca por assessoria jurídica especializada são seus maiores aliados para garantir que seu investimento seja seguro e que você contribua para a preservação do nosso meio ambiente.
Quantas vezes você já assinou um documento sem ler cada linha com atenção? Ou leu, mas não compreendeu totalmente todas as cláusulas e suas implicações? No mundo dos negócios e das relações cotidianas, os contratos são onipresentes – de um aluguel de imóvel, à prestação de serviços, passando por compras e vendas, e até mesmo acordos de trabalho. Eles formalizam compromissos e expectativas, mas também carregam riscos ocultos para quem não os compreende integralmente.
É nesse cenário que a análise de um advogado especializado se torna não apenas recomendável, mas crucial. Ignorar essa etapa pode transformar um simples acordo em uma fonte de grandes problemas e prejuízos futuros.
A Complexidade Oculta por Trás das Cláusulas
À primeira vista, muitos contratos parecem simples e diretos. No entanto, a linguagem jurídica é técnica e, por vezes, ambígua para o leigo. Termos como "cláusula resolutiva expressa", "força maior", "perdas e danos", "foro de eleição", ou mesmo a ausência de certas garantias, podem ter implicações profundas que escapam a um olhar desavisado.
Um advogado não apenas "lê" o contrato; ele o interpreta à luz da legislação vigente, da jurisprudência e, principalmente, dos seus interesses e do cenário em que o contrato será aplicado.
Por Que a Análise Jurídica Prévia é Indispensável?
1- Identificação de Riscos e Vantagens:
Riscos Ocultos: Um contrato pode conter cláusulas abusivas, desequilibradas ou que exponham você a responsabilidades excessivas que você não percebeu.
Perda de Direitos: A ausência de certas cláusulas protetivas pode fazer com que você perca direitos importantes em caso de inadimplemento ou rescisão.
Oportunidades Perdidas: Um bom advogado pode identificar oportunidades de negociação de termos mais favoráveis que você sequer imaginava.
2- Garantia de Clareza e Compreensão:
Linguagem Acessível: O advogado pode interpretar contrato de maneira a tornar a sua linguagem mais clara e compreensível, garantindo que você entenda exatamente o que está assinando.
Dúvidas Esclarecidas: Todas as suas perguntas sobre o alcance de cada cláusula, prazos, obrigações e consequências serão respondidas.
3- Prevenção de Conflitos e Litígios Futuros:
Acordos Sólidos: Um contrato bem redigido e analisado minimiza as chances de mal-entendidos e divergências que podem evoluir para ações judiciais longas e custosas.
Mecanismos de Solução: O advogado pode sugerir a inclusão de mecanismos de resolução de disputas mais eficientes, como mediação ou arbitragem, que evitam a judicialização.
4- Adequação à Legislação:
Conformidade Legal: Garante que o contrato esteja em conformidade com o Código Civil, o Código de Defesa do Consumidor (se aplicável), e outras leis específicas da área, evitando sua nulidade ou anulação.
Atualização: Leis mudam e novas interpretações surgem. Um profissional atualizado garantirá que seu contrato reflita o cenário jurídico mais recente.
Questões Cruciais que Um Advogado Avalia:
Ao analisar um contrato, o advogado não se atém apenas à superfície. Ele aprofunda em questões como:
Identidade e Capacidade das Partes: Quem são os envolvidos? Possuem a capacidade legal para celebrar o contrato?
Objeto do Contrato: O que está sendo negociado? É lícito, possível, determinado ou determinável?
Prazo e Condições: Quais os prazos para cumprimento das obrigações? Existem condições suspensivas ou resolutivas?
Cláusulas de Penalidade: O que acontece em caso de descumprimento? As multas são justas e proporcionais?
Garantias: Quais garantias estão sendo oferecidas? São adequadas?
Rescisão e Resolução: Quais as condições para rescindir o contrato? Quais as consequências?
Foro de Eleição: Onde eventuais disputas serão julgadas? É um local conveniente para você?
Aspectos Tributários e Fiscais: Há implicações financeiras ou tributárias que precisam ser consideradas?
A Máxima: "Não Assine o Que Não Entende"
É um clichê, mas absolutamente verdadeiro. Assinar um contrato sem a devida compreensão é como caminhar em um terreno minado com os olhos vendados. As consequências podem variar desde um pequeno incômodo até prejuízos financeiros significativos, perda de patrimônio e desgaste emocional.
Investir na assessoria jurídica pré-contratual não é um gasto; é um investimento em segurança, paz de espírito e proteção dos seus direitos. É a garantia de que os compromissos assumidos serão transparentes, justos e alinhados aos seus objetivos.
Conclusão: Busque a Orientação Certa
Diante da complexidade e das armadilhas que um contrato pode apresentar, a figura do advogado especializado em Direito dos Contratos é sua principal aliada. Ele não apenas desvenda os termos jurídicos, mas atua como um guardião dos seus interesses, garantindo que o acordo firmado seja um instrumento de segurança, e não de vulnerabilidade. Antes de colocar sua assinatura, consulte quem entende.
É importante notar que a abusividade de uma cláusula é frequentemente avaliada à luz do Código de Defesa do Consumidor (CDC), quando a relação é de consumo, ou do Código Civil, nos demais casos, sempre buscando o equilíbrio contratual e a boa-fé.
Aqui estão alguns exemplos comuns de cláusulas que podem ser consideradas abusivas:
Exemplos de Cláusulas Abusivas em Contratos
Cláusulas que Exoneram ou Atenuam a Responsabilidade do Fornecedor por Vícios ou Defeitos:
Exemplo: "A empresa não se responsabiliza por quaisquer defeitos ou falhas no produto após a entrega, cabendo ao consumidor arcar com todos os custos de reparo."
Por que é abusiva: No âmbito do CDC, o fornecedor tem responsabilidade objetiva por vícios do produto e do serviço. Uma cláusula que tente isentá-lo dessa responsabilidade é nula de pleno direito, pois viola o art. 24 do CDC (garantia legal de adequação) e o art. 51, I (que considera nulas as cláusulas que impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor).
1- Cláusulas que Imponham Representante para Concluir ou Realizar Outro Negócio Jurídico Pelo Consumidor:
Exemplo: "Pela assinatura deste contrato, o consumidor nomeia a empresa como sua procuradora para a contratação de serviços adicionais de manutenção, sem necessidade de nova anuência."
Por que é abusiva: O art. 51, VIII do CDC considera nulas as cláusulas que "imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor". Isso restringe a liberdade de escolha do consumidor e pode gerar vendas casadas ou serviços indesejados.
2- Cláusulas que Deixem ao Fornecedor a Opção de Concluir ou Não o Contrato, Embora Obrigando o Consumidor:
Exemplo: "Este contrato poderá ser revogado pela contratada a qualquer tempo, sem prévio aviso, e sem qualquer penalidade, a seu exclusivo critério."
Por que é abusiva: Viola o art. 51, X do CDC. Um contrato deve gerar obrigações recíprocas e equilibradas. Se apenas uma parte pode desistir livremente sem ônus, há um claro desequilíbrio e uma falta de segurança jurídica para a outra parte.
3- Cláusulas que Estabeleçam Obrigações Iníquas, Abusivas, Que Coloquem o Consumidor em Desvantagem Exagerada, ou Sejam Incompatíveis com a Boa-Fé ou a Equidade:
Exemplo: "Em caso de rescisão antecipada pelo consumidor, será devida multa compensatória equivalente a 50% do valor total restante do contrato, independentemente do motivo."
Por que é abusiva: Embora multas por rescisão sejam válidas, o percentual deve ser razoável e proporcional ao prejuízo real do fornecedor. Um valor excessivo pode configurar desvantagem exagerada para o consumidor (art. 51, IV, do CDC e arts. 412 e 413 do Código Civil, que permitem ao juiz reduzir a penalidade se for manifestamente excessiva).
4- Cláusulas de Renúncia ou Disposição Antecipada de Direitos:
Exemplo: "O contratante renuncia expressamente a qualquer direito de reclamar por vícios ocultos do imóvel, após a vistoria de entrega das chaves."
Por que é abusiva: Direitos previstos em lei, especialmente os do consumidor, não podem ser renunciados antecipadamente, pois são irrenunciáveis. O art. 51, I, do CDC aborda essa questão.
5- Cláusulas de Alteração Unilateral do Contrato:
Exemplo: "A prestadora de serviços reserva-se o direito de alterar as condições e os preços deste contrato a qualquer momento, mediante simples comunicação por e-mail."
Por que é abusiva: O art. 51, XIII do CDC veda cláusulas que autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato após sua celebração. A alteração de termos essenciais deve ser negociada e acordada por ambas as partes.
6- Cláusulas que Restringem o Direito de Escolha do Consumidor ou Terceiros:
Exemplo: "O conserto de qualquer item do veículo durante o período de garantia deverá ser feito exclusivamente em oficinas indicadas pela montadora, sob pena de perda da garantia."
Por que é abusiva: Embora haja uma certa margem para controle de qualidade, restrições excessivas que impeçam a livre escolha do consumidor (por exemplo, oficinas credenciadas para reparos básicos) podem ser questionadas, especialmente se o serviço puder ser comprovadamente realizado por outro profissional qualificado.
7- Cláusulas de Eleição de Foro Abusivas:
Exemplo: "Fica eleito o foro da cidade X, local da sede da empresa, para dirimir quaisquer dúvidas oriundas deste contrato."
Por que é abusiva: Em relações de consumo, a escolha de um foro muito distante do domicílio do consumidor pode dificultar ou inviabilizar seu acesso à Justiça. Embora legal em contratos entre empresas, no CDC, essa eleição de foro é considerada nula quando implicar em prejuízo ou dificultar a defesa do consumidor.
A Importância da Análise por um Advogado
Esses exemplos demonstram que nem sempre o que está escrito em um contrato é válido ou justo. Um advogado consegue identificar essas armadilhas, negociar melhores condições para seu cliente ou, se necessário, questionar judicialmente a validade de uma cláusula abusiva.
A análise jurídica prévia transforma o ato de assinar um contrato de um salto de fé em uma decisão informada e segura, protegendo seus direitos e evitando surpresas desagradáveis no futuro.
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